segunda-feira, 25 de abril de 2011

Narradores de Javé, a arte de contar histórias


Com humor icônico e cenário brasileiro, o filme Narradores de Javé, dirigido por Eliane Caffé, apresenta ao público o povoado de Javé. A cidade está prestes a ser inundada para a construção de uma hidrelétrica e a população local aposta na criação de um livro contando a história do município como forma de evitar a sua destruição.

O escolhido para escrever a história da localidade é Antônio Biá, o único morador alfabetizado e também o mais fofoqueiro. Biá havia sido expulso de Javé por inventar histórias dos moradores para salvar seu emprego na agência de correio, mas é o único habilitado para desenvolver a função de escritor. Ele mostra-se um personagem arisco, com um humor implacável. Trata os demais personagens com a mínima delicadeza e insiste em ressaltar a necessidade de incrementar as histórias, para que elas se adequem ao gênero escrito.

Durante todo o filme, é frisado que um fato narrado nunca é igual ao acontecido, a história sempre vai mudando conforme seu narrador. Tratando-se de História, não há uma verdade absoluta, pois, por mais imparcial que o historiador seja, o ato de narrar já modifica o fato. No caso de Javé, esta característica acentua-se. A fonte oral, que é usada pelos moradores, é muito mutável, o “boca-a-boca” produz diferentes interpretações e seleções dos fatos mais importantes para o interlocutor. Oralmente, muitas vezes o que é lembrado e passado adiante da história é o que é importante para aquele que ouve.

Em Narradores de Javé os personagens constantemente brigam para encontrar uma versão verídica, o que influenciou para o insucesso da missão de salvar a cidade. Mas a personagem Maria sabiamente comenta, quando questionada sobre o porquê de ter votado a favor da escrita de mais de uma versão da história no livro, “As duas histórias tem sentido. Não se pode tirar uma sem prejuízo da outra”. Dona Maria esclarece em sua fala que para analisar uma história não é preciso eleger uma versão como verdade absoluta, é necessário considerar todos os relatos para enriquecer o produto final.

Atualmente, essa concepção de construção da história vem valorizando-se. Hoje, já é questionado o papel dos coadjuvantes nas histórias, os exageros já são vistos com desconfiança. A discussão de ideias é mais estimulada no jovem, eles são incentivados a olhar as narrativas por outros ângulos, diversificar as fontes, duvidar daquilo que é posto como verdade absoluta. Narradores de Javé ajuda-nos a perceber como esse olhar crítico e aberto a diversas versões de um mesmo fato é necessário para enriquecer nossa própria história.

Grupo:
Anne Mello (06)
Carolina Vidal (10)
Lorena Oliveira (26)
Maria Carolina Rios (32)
Victoria Widmer (46)
Turma: D

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