segunda-feira, 16 de maio de 2011

A memória constrói o que os fatos dizem ser verdade

Vencedor nas categorias de melhor filme, direção, montagem, ator e atriz coadjuvante, em Festivais Nacionais e Internacionais, o longa tornou-se um clássico do Cinema Brasileiro. O filme Narradores de Javé retrata a saga de um povoado, localizado no Sertão Nordestino, que está sendo ameaçado a inundar, por conta da construção de uma hidrelétrica. Para evitar tal situação, os habitantes devem transformar suas histórias, até então existentes apenas nas suas memórias, em um “dossiê” norteado por fatos científicos. Com esse livro, a cidade se tornaria um patrimônio histórico a ser preservado, por fazer parte da Cultura Brasileira.

Mesmo com a sua veia de comédia, o filme descreve uma situação dramática. Zaqueu (Nelson Xavier) traz a notícia sobre a construção da hidrelétrica. Inconformado, tem a ideia de escrever o chamado “Livro da Salvação”, visando manter a cidade fora do alvo dos engenheiros. Porém, para esse povo a escrita representa um grande desafio e o único que melhor articularia esta história é Antônio Biá (José Dumont), conhecido por suas mirabolantes narrações, utilizadas em benefício próprio, com o objetivo de aumentar o fluxo de cartas no povoado, já que grande maioria dos habitantes era analfabeta. Desta forma, garantiria a manutenção do seu emprego no correio.


A dificuldade de encontrar uma verdade absoluta para explicar o surgimento do povoado de Javé, deve-se as diversas versões contadas pelos habitantes, a fim de legitimar sua cultura. Para Antônio Biá é um grande desafio conciliar as histórias que chegam a seus ouvidos; as reflexões são constantes, assim como as frustrações sofridas, devido à falta de sucesso na escrita do livro. Como bem disse a personagem em uma passagem do filme “Uma coisa é o fato ocorrido. Outra é o fato escrito”, as fontes orais e escritas apresentam uma diferença crucial que é claramente perceptível.


As memórias representam muito para a cultura de um povo, pois estas formam a sua identidade. O fato de uma sociedade não possuir documento escrito e apenas a memória, não a torna menos importante ou menos avançada que uma que possui fontes escritas. O filme enaltece esta ideia, valorizando as fontes orais que guardam os fascinantes detalhes e as origens da história do povo “javélico”.

As memórias constituem a Identidade de um povo.


 
As reflexões são constantes, assim como as frustrações.
Escultura: O Pensador de Auguste Rodin.